O livro do riso e do esquecimento.
Uma simples frase me deu um choque: “Nós escrevemos porque nossos filhos se desinteressaram de nós”. Sim, escrevemos porque somos seres solitários à procura de outros filhos. Ele conta a estória de uma jovem que trabalhava como garçonete num bar. Seu nome era Tamina. Tamina “fica sentada no bar, num tamborete, e quase sempre há alguém que quer conversar com ela. Todo mundo gosta de Tamina. Porque ela sabe ouvir o que lhe contam. Mas será que ela ouve mesmo? Ou não faz outra coisa senão olhar, muito atenta, muito calada? O que conta é que ela não interrompe a fala. Vocês sabem o que acontece quando duas pessoas conversam. Uma fala e a outra lhe corta a palavra: ‘é exatamente como eu, eu... e começa a falar sobre si até que a primeira consiga por sua vez cortar: é exatamente como eu, eu... Essa frase, exatamente como eu, eu... parece ser um eco aprovador, uma maneira de continuar a reflexão do outro, mas é um engodo: na verdade é uma revolta brutal contra uma violência brutal, um esforço para libertar o nosso próprio ouvido do adversário. Pois toda a vida do homem entre seus semelhantes nada mais é do que um combate para se apossar do ouvido do outro. Todo o mistério da popularidade de Tamina é que ela não deseja falar sobre si mesma. Sem resistência, ela aceita os ocupantes de seu ouvido...”
Tenho tantos ocupantes dos meus ouvidos que as vezes acho que convivo mais com os problemas dos outros do que com os meus. Carrego todos nas minhas costas e me sinto pesado.
É bem simples, você está la sentado, fazendo suas coisas e de repente chega uma pessoa, de preferência uma conhecida, porque não faz sentido desconhecidos desabafarem, apesar disso também acontecer, e despeja em você todas as lamentações, lamúrias, tristezas, vomita em você tudo de ruim que ela possa ter e estar sentindo no momento, aí você, como é um ser amigo, e gosta de ajudar, dá conselhos, tenta aliviar a situação, tenta fazer com que aquilo não seja um bicho de sete cabeças, e a pessoa ouve atentamente, as vezes chora, e vai embora.
E o que sobra?
Sobra você ali sentado, com seus problemas e mais os dos outros.
Acho tão egoísta isso, ninguém me pergunta ao menos se eu quero ouvir ou se posso ouvir. Sinto que as pessoas chegam, pegam um pedaço meu e levam embora, me sinto esgotado sem energia pra cuidar da minha vida, dos meus problemas, de mim.
Ser legal não é legal, ser bonzinho ídem, as pessoas confundem, acham que por você ser legal elas podem e tem o direito de acabar com seu dia enchendo ele de coisas que não são suas.
Ando praticando mais a palavra não, ando não sendo mais legal, ando sem paciência, ando chato, ando sendo grosso, medidas drásticas e que se a pessoa tiver um semancol, ajuda!
Então, não venha me dizer como foi seu dia, sua noite, como está a sua vida, porque fatalmente eu vou ser um trator e vou passar por cima de você sem remorso algum, e vou ser egoísta ao extremo, porque agora eu quero cuidar de mim, cuidar de mim!!!
Ouvindo Beth Gibbons - Mysteries
Trecho do livro de Milan Kundera, bom pra cacete!
Sabadão frio, tudo cinza, chovendo....chato pacas.
2 comentários:
Opa... Saudações!
Tava de bobeira por aqui e acabei encontrando este blog, que, por sinal, é muito bom... Curti bastante os posts!
E lendo este último, sabe que me deu até vontade de escrever?
Abração e energias positivas a mil por hora...
Caraca, adorei seu blog, vasculhei ele todo já, gostei do seu jeito de escrever.
Aliás a diferença do seu texto para o meu é que ali fala de conselhos, pessoas procurando uns e eu já não aguento mais dá-los...rs
Obrigado pela visita.
Só queria saber se nesse blog dá pra colocar ali do ladinho os links dos outros blogs, tipo amigos de orkut entendeu?
Se você descobrir me diz.
Quanto a pergunta da profissão eu já pulei de galho em galho feito macaco, fiz história, tranquei, meu pai queria engenharia civil e no que me formei? Jornalismo!
Não dá para agradar a tudo e a todos.
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